Opinião

Então é Natal

Por Eduardo Caputo
Pesquisador associado - Universidade Brown, EUA
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Em 2017 tive minha primeira experiência morando no exterior. Por um ano, residi em Sydney, Austrália. Ao chegar em um país novo, uma das primeiras coisas a se fazer é procurar um local de moradia. Os aluguéis no exterior são bem caros e alugar um apartamento, sendo estudante e vivendo de bolsa, em geral não é uma alternativa. Aluguei então um quarto, num apartamento de um casal polonês. Sim, sublocar quartos extras para "colegas de casa", é algo bem comum, lá fora.
Sebastian e Marzena eram um casal tranquilo, já no final dos seus 30 anos na época. Morei lá todo o tempo que estive em Sydney, e durante esse tempo tive a oportunidade de aprender muito sobre a cultura, história e culinária polonesa.

Inclusive, virei frequentador do clube polonês, onde inclusive vi jogos da seleção vermelha e branca na Copa de 2018.
Como meu retorno para o Brasil estava marcado apenas para agosto, acabei passando as festas de final de ano por lá mesmo. Eu nunca fui uma pessoa muito entusiasmada com as festas de final de ano. Até hoje, não sei explicar muito bem o motivo. Entretanto, esse fato nunca foi um empecilho para eu aderisse às convenções sociais desse período. Porém, foi de fato a primeira vez que passei esse período fora do País.

As formas de comemorar o Natal, assim como outras tradições, também apresentam diferenças culturais. Os australianos, por exemplo, costumam comemorar no dia 25 indo a um restaurante com a família. Nada daquela bagunça em casa na noite do dia 24, onde o pessoal se arruma todo para passar a noite na sala. Por outro lado, os japoneses têm costumes mais parecidos com os nossos, reunindo a família no dia 24. E os chineses... bom, os chineses não comemoram o Natal, e comemoram o Ano Novo na data de seu calendário.

Mas, retornemos aos poloneses. A Polônia é um país muito católico, e não é à toa que durante anos o Papa foi um polonês. Por isso, eles têm o Natal como uma data muito importante. Certa vez, em uma das várias conversas que tivemos na cozinha comparando nossas culturas, eles me contaram algo interessante sobre o Natal na Polônia. Na véspera, ao se montar a mesa da ceia, as famílias sempre deixam um lugar a mais do que o planejado à mesa. O motivo? Caso alguém não tenha onde passar o Natal, e bata a porta, possa se juntar àquela família. Lembrando que, diferentemente do Brasil, por lá faz bastante frio essa época do ano.

Na minha opinião, essa cultura polonesa não diz tanto sobre a importância do Natal em si, mas sim sobre humanidade. O choque de realidade que tive ao retornar ao Brasil, pela segunda vez após um tempo grande fora, me fez lembrar dessa história. O Natal é geralmente uma das épocas onde várias campanhas são realizadas. Cestas básicas, jogos de futebol beneficentes, arrecadação de brinquedos, etc. É claro que eu não estou criticando as mesmas. Pelo contrário, acho que são iniciativas importantes e quem as toma presta um grande serviço à comunidade. Porém, é preciso lembrar que humanidade é algo que precisa ser exercido sempre, por gestores públicos especialmente, não somente me datas comemorativas.

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